Pouco conhecida pelos viajantes brasileiros, a Namíbia nos presenteia com uma África diferente do que encontramos na África do Sul. São cenários quase lunares que nos despertam sensações e emoções muito fortes. Abaixo, compartilho alguns detalhes dos principais passeios que fiz pelo país e já deixo um spoiler: fui embora morrendo de vontade de voltar!
Sossusvlei: passeio famoso pelas dunas
Localizadas no Parque Nacional Namib Naukluft, em Sesriem, ficam umas das atrações mais famosas do país e, sem dúvida, imperdível.
Somente quatro dunas estão abertas para a visitação e caminhadas, enquanto as outras seguem fechadas para preservação. A Duna 45 (que fica a 45 quilômetros de Sesriem) e a Big Daddy são as mais procuradas. A visão do topo é paralisante. Incrível!
Nosso guia nos deixou de um lado da montanha e disse: “encontro vocês do outro lado”. Fiquei sem fôlego, mas valeu a pena.
Para quem não tem preparo físico, vá devagar. A dica é seguir as pegadas, pisando em cima das marcas, dando passos bem curtinhos e tentando manter o ritmo. A duna tem 85 metros de altura e levamos cerca de uma hora para alcançar o topo.
Tudo que sobe, um dia tem que descer, não é mesmo? Depois que chegamos lá no alto, era a hora de voltar pelo outro lado da duna. A descida é muito rápida e leva algo como cinco minutos. A areia prende o pé, então não há perigo de sair rolando.
Você deve se perguntar se essa areia lembra um pouco a dos Lençóis Maranhenses, mas, na verdade, ela é mais fininha, algo próximo das dunas do Jalapão.
Deadvlei: Museu vivo de árvores mortas
Talvez você já tenha visto uma dessas fotos emblemáticas das árvores mortas no deserto da Namíbia e não saiba. E aqui já deixo um grande paradoxo: elas mortas estão mais vivas.
Essas esculturas criadas pela própria natureza têm mais de novecentos anos e ficam em Deadvlei, que significa “pântano morto”.
Ao descer as dunas e achando que já tinha visto o máximo de beleza do Deserto da Namíbia, eis que surgem as árvores mortas. São verdadeiras obras de arte, sobressaindo no colorido terroso das dunas, contrastando com o céu azul e com o solo argiloso de sal.
Os registros históricos contam que a área recebia água do rio Tsauchab e o avanço das mudanças climáticas provocou a desertificação da região. As dunas bloquearam a passagem do rio, no entanto, as árvores se mantiveram intactas, porque estavam completamente secas, impedindo a sua decomposição.
Além de lindas, são ainda mais emblemáticas. De formatos diferentes, parecem ter sido petrificadas enquanto dançavam com o vento.
Na África do Sul, outras árvores mortas já tinham me impressionado. Um prenúncio do que estava por vir. Poesia, obra de arte e um campo vasto para inúmeras reflexões que não cabem em um artigo.
Canyon Sesriem
O Canyon Sesriem fica a cerca de 4,5 km do portão de entrada do Parque Nacional Namib-Naukluft e é uma das atrações mais visitadas na região.
Nos hospedamos no interior do parque, no Kulala Desert Lodge e, com isso, tínhamos a facilidade de circular livremente. Ficamos duas noites, mas acredito que uma diária seja suficiente. Vale lembrar que as dunas podem ser feitas no mesmo dia dos cânions. Pela manhã, as dunas e à tarde o Canyon Sesriem.
O Rio Tsauchab ajudou na composição do cânion ao longo de milhões de anos e sua profundidade chega a 30 metros. Sua formação rochosa parece desenhada à mão. Há cavernas e rastros de animais que aparecem ao entardecer, como babuínos e cobras. Procure aproveitar esse passeio antes do fim do dia.
O acesso é fácil, há estacionamento na beira do cânion. Muita gente aluga carro 4×4 na capital, Windhoek, para chegar até lá, mas note que são 350 quilômetros de muito chão, o que deve resultar num trecho em torno de 4h30 de duração. Atente que a estrada é de pedra, ou seja, mesmo viajando com carros grandes, é impossível evitar o sacolejo. E pode ser que você tenha que trocar um pneu.
A outra maneira de chegar a Sossusvlei é encarando uma viagem de uma hora a bordo de um aviãozinho, como explico mais abaixo.
Safari na Namíbia
Muito se engana quem pensa que a beleza desse país se resume apenas ao seu deserto. Com certeza, ele é lindo e pude comprovar. No entanto, há mais do que isso. Fizemos um safári incrível em um vilarejo a 45 minutos da capital, Windhoek, na reserva do hotel Zannier Omaanda.
A temperatura estava mais fresca e chovia. Nosso ranger nos preveniu de que os animais se abrigariam da chuva e, por isso, não deveríamos criar expectativas. Esse foi o segredo do sucesso: o sol apareceu e os animais também.
Logo vimos três leoas juntinhas posando para as fotos. Que privilégio! Rinocerontes, zebras, órix e antílopes também deram o ar da graça.
Já tinha me dado por satisfeita quando surgiu um elefante. Ele parecia ter gostado da plateia e resolveu quebrar uma árvore ao meio para se alimentar. Fomos ao delírio!
Logo em seguida, apareceu uma manada de órix com várias girafas correndo. Me senti no meio de um episódio do National Geographic! Foi um safári fotográfico perfeito.
Para fechar o dia, o sol foi dando adeus de forma majestosa, como se as cortinas do espetáculo estivessem se fechando. De cor de fogo, passou ao rosa alaranjado, depois veio o roxo até que escureceu totalmente.
Ainda fiquei com vontade de conhecer o norte da Namíbia, como o Parque Nacional de Etosha que faz fronteira com Angola. A Costa dos Esqueletos (região de praias desertas) e a Walvis Bay Lagoon (onde moram os flamingos) também devem ser regiões belíssimas. A Namíbia rende um roteiro incrível.
Como chegar até a Namíbia?
Voamos saindo da Cidade do Cabo até Windhoek, a capital da Namíbia. De lá, pegamos um voo para o hotel que fica em Sossusvlei, o deserto mais antigo do mundo.
O avião era muito pequeno e tinha apenas seis lugares. Era tão estreito que não permitiam o embarque com malas rígidas, apenas aqueles modelos mais maleáveis de até dez quilos. Caso você não queira levar, eles emprestam uma bolsa desse tipo e o restante da sua bagagem fica num guarda-volume.
O voo durou apenas 1h15, mas vivi uma sensação de estar voando quase que com minhas próprias asas. O piloto parecia tranquilo, mas avisou que poderia chacoalhar um pouco durante o percurso. Fiquei com medo, mas resolvi encarar mesmo assim. Voei poucas vezes nesse tipo de aeronave, apenas durante a viagem pelo Taiti e o tradicional sobrevoo dos Lençóis Maranhenses. Não foi muito fácil para mim e foi um alívio pousar em terra. Deu tudo certo!
Voltei de carro 4×4 e a viagem levou 5 horas, mas vibrei com as paisagens e o pé no chão!
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