A minha expectativa era de conhecer os fervedouros que via pelas fotos. Lindas piscinas de água transparente cercadas por folhas de bananeiras, com uma escada de madeira para compor a bela foto que sonhava em fazer saindo da água.
Imaginava o pôr do sol do alto das dunas avermelhadas ou da Pedra Furada naquele colorido degrade cor de terra. Queria ver a bela cachoeira, que pelas imagens, me lembrava o verde esmeralda dos Lagos de Plitvice, na Croácia. Focada nas atrações pré-determinadas, me encantei com uma à parte e que ninguém conta.
Fico com pena de revelar essas surpresas da viagem! Acho que cada um deveria se surpreender e viver a sua própria experiência, mas ao mesmo tempo quero falar do que esperar e da importância de se preservar o Cerrado, especificamente essa joia bruta brasileira.
Ponte de madeira
A expedição parte de Palmas, capital do Tocantins. Então, chegue um dia antes. Existem mais de 50 empresas fazendo as expedições. Sim, é uma expedição e vai entender por quê. É possível fazer por conta própria, porém o carro deve ser 4×4, as estradas são de difícil acesso, ora de areia, ora de lama, ora de pedra. Não há placas informativas e você se locomove por horas sem ver uma pessoa ou construção. Um dos motivos de ser conhecido como “deserto do Jalapão” é a sua baixa densidade demográfica.
Expedição
Assim, recomendo uma empresa conhecida. Normalmente, o valor inclui hospedagem, refeições e atrações, no melhor estilo “me leva que eu vou”. Não inclui bebidas e os opcionais de rafting e tirolesa.
O que afasta muita gente de ir, me fascinou. As muitas horas na estrada todos os dias desanima os viajantes que não gostam de ficar muito tempo dentro de um carro. Eu amo uma road trip e com o visual favorecendo, vou embora. Arrocha o buriti! (significa acelera!) Nascida e criada em cidade grande, sou muito urbana! Uma vaca no campo já é bem rural para mim.
roda na estrada crianças no carro
Então, imagine uma estrada em que a ema corre acompanhando o carro, a arara azul canta forte, onde a delicada flor que cobre o chão do cerrado de rosa se chama malícia e com apenas um toque ela se recolhe, os buritis pelo alto que se confundem com babaçu, as corujas apoiadas em galhos e postes que parecem estátuas, as plantações de soja amarela que lembram os girassóis da Toscana, os campos molhados de arrozais, a dona Maria na tranquilidade da sua varanda tecendo a bolsa de capim dourado na espera de um turista. Tudo isso que não contam, mas pude sentir, me encantou.
Canela de Ema Malícia a flor do Cerrado
Até o chão de barro bem vermelho com pedras, pedrinhas e pedregulhos, buracos que desenhavam córregos e ajudavam a conduzir o carro sinuosamente, com a trepidação inevitável, fazendo jus à frase que li em um jipe “no Jalapão, o coração não bate, trepida”.
A diversão começa onde o asfalto termina
Pela janela, passava o filme do Jalapão! E que filme extraordinário. A estrada contemplativa nos leva para dentro do Jalapão bruto e ao mesmo tempo delicado. O deserto de gente que não se vê por horas de caminhada. É na estrada que a gente sente a viagem e o lugar. Que se mantenha assim. Por isso insisto que a viagem é para quem gosta de estrada e consegue ver beleza da janela de um 4×4. Que não chegue o asfalto, senão o que será da arara, do buriti, da ema e da malícia?
Casa da Dona Maria
Ao final, chego à conclusão de que não estraguei a surpresa não contada no roteiro e não mostrada na foto. O Jalapão a gente sente! A experiência é pessoal e cada um perceberá de uma forma.